Utilizar o celular inadequadamente provoca riscos à saúde
O celular se tornou um objeto essencial na vida das pessoas: um levantamento brasileiro revela que sete em cada dez estudantes não desgrudam do aparelho nem na hora de dormir! Só que essa relação tão íntima pode atrapalhar o corpo e a mente. SAÚDE foi atrás de especialistas para descobrir como tornar esse convívio mais equilibrado.
Postura
Passar muito tempo ao celular, lendo e respondendo mensagens com o pescoço curvado, causa dor na cervical? Segundo Kenneth Hansraj, do Centro Médico de Cirurgia Espinhal e Reabilitação de Nova York (EUA), a resposta é sim. Ele constatou que, quanto maior o ângulo de curvatura do pescoço, pior: se o ângulo é de 15 graus (cabeça mais ereta), a carga sobre a cervical é de 12 quilos; se passar a 60 graus (cabeça abaixada), chega a 27 quilos.
“Quem fica tempo demais nessa posição sobrecarrega a coluna e tem dor no pescoço por fadiga muscular”, explica o médico Edson Pudles, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Já o fisioterapeuta Ney Meziat Filho, do Centro Universitário Augusto Motta, no Rio de Janeiro, tem dados diferentes.
“Não vimos associação entre a postura do usuário ao digitar no celular e a frequência de dor no pescoço”, conta o autor de um estudo de grande repercussão com 150 jovens. O professor vai continuar a investigação com um número maior de voluntários, que serão avaliados por até dois anos.
O que fazer
Em vez de abaixar a cabeça, mantenha-a ereta e leve o celular à altura dos olhos.
Faça exercícios de alongamento para relaxar a tensão no pescoço. Uma sugestão é levantar e abaixar os ombros.
Pratique atividade física regular para fortalecer a musculatura das costas.
Sono
Já virou até lugar-comum: quer dormir bem? Então não leve preocupação para a cama. Mas seria melhor reformular: que tal não levar o celular para a cama? No curto prazo, o uso intenso de aparelhos eletrônicos antes de dormir leva a dificuldades para pegar no sono, mau humor e cansaço. No longo prazo, porém, o estrago é maior: dezenas de trabalhos já associam um descanso inadequado a maior risco de diabetes, infarto e câncer.
O problema do celular, e de outras telas, está na emissão da luz azul. Um experimento da Universidade de Haifa, em Israel, comprovou que ela inibe a produção de melatonina, o hormônio que prepara o corpo para dormir e se reparar. “A luz azul estimula o cérebro a se manter em alerta. Isso aumenta a temperatura corporal e dificulta o início do sono”, explica a neurologista Aline Turbino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “E, quando a pessoa adormece, o sono se torna mais superficial”, completa.
O que fazer
Maneire no uso do celular antes de dormir e diminua os estímulos luminosos e sonoros da casa quando anoitecer.
Ao deitar-se, desligue o telefone ou deixe-o no modo silencioso.
Alertas de luz e som no celular, ainda que discretos, afetam o sono. Mantenha distância.
Visão
Atire o primeiro smartphone quem nunca sentiu os olhos ressecarem depois de ficar um bom tempo entre mensagens, e-mails e afins. Um estudo da Universidade de Seul, na Coreia do Sul, com 916 crianças entre 7 e 12 anos, revela que o risco de desenvolver a síndrome do olho seco, quando a produção de lágrimas é menor que o habitual, é maior entre aquelas que passam até 3,2 horas por dia em frente às telas.
Com a vista focada nos aparelhos eletrônicos, o número de piscadas diminui e, por tabela, há um prejuízo na secreção da lágrima que lubrifica a superfície ocular.
O uso prolongado do celular, aliás, não poupa a visão dos adultos. “Os problemas vão desde coceira e vermelhidão até vista cansada e miopia“, alerta o oftalmologista Luiz Carlos Portes, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
O que fazer
Reduza o tempo ininterrupto no celular para evitar a desidratação da superfície ocular.
A vista precisa de descanso: desvie o olhar de qualquer tela por 10 minutos a cada 50.
Se o oftalmo julgar necessário, considere o uso de colírios lubrificantes.