“A Educação Ambiental tem ações efetivas na formação das pessoas porque questiona os modelos de ocupação”. Com esta tônica, Daniel Munduruku, doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo/USP e autor de diversos livros sobre a temática indígena, deu início ao III Seminário de Educação Ambiental, realizado em Juara promovido pelo Projeto Poço de Carbono Juruena em parceria com a Universidade de Estado de Mato Grosso/Unemat.
O projeto Poço de Carbono é patrocinado pelo governo federal, através do Programa Petrobras Socioambiental. Foi realizada uma parceria com a Unemat para desenvolver o projeto de extensão Contextos ambientais Juruena e Juara, com a formação de 66 professores indígenas e também da rede pública em Educação Ambiental. A partir de sua vivência e reflexões, Munduruku abordou vários mitos em relação aos povos indígenas. Ele lembrou que é um erro dizer que os indígenas atrapalham o desenvolvimento. “Na verdade eles, além de serem resistência em relação ao modelo de ocupação, também ajudam a conservar grande parte das florestas”, garantiu.
Outra abordagem apresentada por Munduruku é de que a maioria dos brasileiros olha para os índios como seres do passado. “As pessoas repetem esse discurso e esquecem que somos contemporâneos, e isso afasta os não-índios de nós”, explicou, afirmando que muitas trocas culturais se perdem por conta disso. Ele citou que um dos exemplos mais importantes está no modelo de Educação Indígena, em que o processo educativo não faz separação entre os saberes. Ou como ele explica: “Quando a criança está brincando, ela está aprendendo a lidar com o meio ambiente”, assinalou.
Conforme Paulo Nunes, coordenador do projeto Poço de Carbono Juruena, a formação em Educação Ambiental é fundamental para o entendimento de como as proposições trazidas pelo projeto para a comunidade dialogam com muitas das questões que estão sendo trabalhadas pelos professores em sala de aula. “Resulta em maior empoderamento dos professores e alunos pelas atividades do projeto, seu maior alcance para as famílias e sua sustentabilidade em longo prazo”, disse ele.
Já a doutora Edneuza Trugillo, da Unemat de Sinop, frisou que a Educação Ambiental precisa ter um caráter transversal e interdisciplinar e que não precisa acontecer necessariamente em sala de aula. Isso confirma as experiências dos trabalhos realizados com os professores e alunos das escolas indígenas e públicas de Juara e Juruena e que foram apresentados na programação paralela do seminário.
Em um dos trabalhos desenvolvidos ao longo do ano, foi apresentada uma ação de jardinagem com arte e sustentabilidade.
Ao todo, foram envolvidos 150 alunos da Escola Estadual Dom Aquino Correia, em que foram feitas visitas ao viveiro de Juruena para escolhas de mudas que seriam plantadas na escola. Além disso, para trabalhar o afeto, os alunos fizeram mini-ikebanas.
Por fim, Reginaldo da Costa, professor do Centro de Formação e Avaliação dos Profissionais da Educação Básica de Sinop, explicou a importância de que a Educação Ambiental seja adaptável a cada realidade. “Não dá para lidar com questões como desperdício de água ou descarte de resíduos do mesmo modo em uma escola de uma grande cidade, de uma cidade do interior ou de uma escola rural ou indígena”, argumentou.
Estas diferenças foram trabalhadas com centenas de alunos pelos professores das escolas rurais e urbanas de Juruena, além dos professores da Terra Indígena Apiaká-Kayabi, de Juara.