CRÓNICA – A vida não está p´ra rir!
O novo ano começou. Ansiávamos por esta nova oportunidade, não era? Comprámos uma agenda nova, tão bonitinha que até temos pena de usar (na prática, só nos lembraremos dela no início de fevereiro), renovámos a inscrição no ginásio, cortámos o cabelo, limpámos o armário e, claro, ainda andamos a remexer nos armários na esperança que tenham sobrado chocolates do Natal.
Janeiro é o mês da esperança e das promessas e, apesar de muitos maldizerem deste mês, é em janeiro que o mundo nos aceita de volta e nos diz – “Vá, tenta lá outra vez”. No meu caso, queridos leitores, quero dizer-vos que acho que este ano será extraordinário (para o meio do ano penso conseguir contar-vos a minha big new), mas não sei se irei fazer uma daquelas viagens de mochilas às costas pelo mundo. E como adorava repetir a experiência.
No meu íntimo, continuo apologista deste espírito “vai embora que tudo correrá bem”, mas felizmente para mim (ou esta casa não se governava), o Tiago tem os pés um bocadinho mais assentes na terra e ensina-me a ter aquela coisa horrorosa à qual chamamos “cautela”. Bah. Às vezes, sinto-me tão Peter Pan a esvoaçar por aí e sem nunca tocar no chão…
Sonhar a longo prazo ou desfrutar do “agora”?
De qualquer forma, trabalho muito melhor assim – por objetivos – e decidi que irei escolher um lugar que queira mesmo conhecer e espalhar imagens pela casa para acordar e lembrar-me desse sonho.
No fundo, gosto de fazer aquilo a que chamo “visualizações” – criar imagens mentais ajuda-me bastante, mas também ajuda se me imaginar, constantemente, a caminhar em direção a esse objetivo, como se fosse uma nova meta.
Desde sempre que sou viciada neste exercício e o meu grande cuidado é não abusar dessa criação mental futurista para nunca me esquecer do mais importante: estar presente. Estar presente, aqui e agora. Então, como é que se projeta um sonho, enquanto se dá total prioridade ao dia de hoje, porque de facto é tudoo que temos?
O truque é ir e voltar.
Como calculam, não tenho respostas para nada (quem as tem?), mas tenho algumas convicções que vou repetindo a mim mesma: é preciso sonhar, desejar, querer evoluir, mas é preciso manter o coração no sítio certo. Saber usufruir do que se tem, agradecer o que existe. Permito-me espalhar pela casa fotografias dos lugares que quero conhecer e falar sozinha sobre viagens que ainda não aconteceram. No entanto, não posso demorar-me muito nessa “viagem”. Tenho de ir e voltar, entre o sonho e a realidade – a realidade de que preciso gostar mais do que aquilo que ainda não aconteceu.
Querido janeiro…
Impões-me que deseje, que me desafie, que queira. Agradeço-te a oportunidade, mas digo-te em antemão que pretendo viver cada dia com entrega, cada mês com serenidade, cada minuto com o maior tempo possível. Não vou endoidecer por ser janeiro, desculpa lá. Serás um mês de recomeços, mas sem nunca deixares de ser presente.
Autora: Marine Antunes