Trata-se de um distúrbio neuropsiquiátrico do comportamento, que na sua grande maioria começa na infância.
A simples presença de tique, principalmente em crianças, não caracteriza a síndrome de Tourette, visto que são relativamente comuns esses sintomas em alguns momentos. Na maioria dos casos, tendem a diminuir em número e frequência até o fim da adolescência.
Para ser caracterizado como distúrbio, os fenômenos compulsivos devem perdurar por pelo menos um ano, mesmo que os sintomas apresentem variações de estilo e local do corpo afetado pelos cacoetes, ou mesmo que alternem entre motor e vocal. Toda forma de cacoete acentua-se pela ansiedade, tensão emocional e estresse.
É reduzida a intensidade de manifestação durante o sono e a prática de atividades que exigem concentração. Também podem ser suprimidos pela vontade.
Os tiques são definidos como movimentos anormais, de natureza crônica e manifestações breves, rápidas, súbitas, irresistíveis e sem propósitos que justifiquem a realização dos movimentos. Apresentam graus variáveis, de leve a grave, e flutuam ao longo do tempo.
O grau leve consiste em tiques motores simples, caracterizados por movimentos abruptos, envolvendo contrações musculares, principalmente dos olhos (piscar); também acontecem movimentos de torção do nariz e boca. O grave equivale a tiques motores complexos, que são mais lentos e parecem propositais, tais como: imitação dos gestos dos outros, gestos obscenos ou bizarros, movimentos violentos como arremesso de objetos, etc.
Além dos tiques motores, que caracterizam o cacoete, existem também os tiques verbais ou vocais e os tiques sensitivos ou sinais acessórios. Os tiques vocais também tem graus simples e complexos. Os tiques vocais simples mais comuns são coçar a garganta e fungar; os mais complexos são: repetição involuntária de frases ou palavras de outrem (ecolalia), uso repetido de palavras com sonoridade complexa ou exótica, inseridas aleatoriamente no meio das frases; palavras chulas ou obscenas pronunciadas inadvertidamente, etc.
Os tiques sensitivos são definidos como sensações somáticas de peso, leveza, frio e calor, que ocorrem nas articulações e nos músculos, obrigando a pessoa a executar um movimento voluntário para obter alívio das sensações de desconforto.
Na concepção metafísica, os tiques refletem a má administração dos próprios impulsos. Num determinado momento a criança extravasa-os exageradamente, tornando-se irrequieta. Sua inquietude pode incomodar os adultos, bem como perturbar a tranquilidade do ambiente. Imediatamente, ela costuma ser tolhida e obrigada a se conter sob a ameaça de punição. A força motriz é inerente ao ser humano. Ela está presente em todas as fases da vida: na infância, na adolescência e na vida adulta. As crianças se tornam a principal fonte geradora dos cacoetes.
Nessa fase do desenvolvimento elas estão descobrindo os prazeres existenciais. Encantadas com as sensações agradáveis promovidas pela prática de certas atividades, empolgam-se e não querem parar de brincar.
Quando são impossibilitadas de continuar a brincadeira, experimentam o “gosto amargo” dos limites impostos pelos pais.
Impossibilitadas de fazerem o que gostam e sem idoneidade existencial para escolherem livremente outra atividade prazerosa, para canalizar a impulsividade, reprimem-se. Como ainda não desenvolveram os recursos emocionais para elaborar as frustrações, sentem-se tolhidas.
A dificuldade de elaboração interior consiste principalmente em não saber esperar o momento oportuno para apreciar, por exemplo, outra brincadeira.
As crianças são imediatistas: não admitem a possibilidade de vir a ter mais tarde ou fazer posteriormente o que apreciam. As coisas precisam ser realizadas naquele exato momento.
O único recurso de que dispõem para manifestar a sua impulsividade, quando tolhidas pelos adultos, é a teimosia.
Elas manifestam sua insatisfação fazendo birras, que funcionam como uma espécie de “válvula de escape” para extravasar sua voracidade. Além de serem impedidas de continuarem executando atividades agradáveis, também são recriminadas por reagir ostensivamente às negativas impostas pelos cuidadores.
Em vez de serem orientadas a respeito dos motivos que as impedem de continuarem se divertindo, são condenadas a parar imediatamente com as birras. Esses recalques da impulsividade podem, metafisicamente, desencadear na criança os cacoetes.
Vale considerar que a imposição dos limites é fundamentalmente importante para o desenvolvimento emocional das crianças.
Por meio deles, elas começam a desenvolver elementos interiores para elaborar suas frustrações.
Por causa da falta de habilidade para elaboração interior de suas paixões, os jovens tornam-se contestadores.
Não raro, rebelam-se veementemente contra quaisquer limites impostos a eles. Principalmente no que diz respeito à repreensão da prática de atividades satisfatórias.
Eles tem dificuldades para conceber a subjetividade, ou seja, que numa ocasião oportuna, poderão saciar seus desejos, bem como que a vida é uma fonte inesgotável de prazer. Portanto, poderão repetir inúmeras outras vezes aquelas atividades satisfatórias.
Na fase da adolescência, os impulsos são os mesmos dos adultos, exceto pela presença dos hormônios no organismo, que se encontram em doses mais elevadas; isso intensifica as sensações, dando a eles uma impetuosidade maior.
Quando são instigados por alguma atividade prazerosa, ficam tomados pela empolgação e tem dificuldade para exercerem o controle sobre suas próprias emoções.
Os adultos, por sua vez, não estão nessa fase de ebulição dos hormônios.
Quando impulsionados pelo prazer, conseguem gerenciar melhor suas emoções. Contêm-se diante do que os entusiasmam, sem, no entanto, castrarem-se. Assim sendo, a aceitação dos fatos é mais comum na fase adulta do que na juventude. Quando o adolescente é limitado por alguma impossibilidade, facilmente ele busca subterfúgios para extravasar seus impulsos. Conforme vai se tornando adulto, aprendem a lidar melhor com suas frustrações.
Esse é o processo de maturidade emocional.
Muitos pais preferem simplesmente impor a sua autoridade sobre seus filhos, em vez de lhes dar explicações. É mais fácil recriminar do que ficar dando explicações. Sem contar aqueles pais que não tem paciência ou extravasam na criança as suas próprias frustrações ou revoltas; isso demonstra ausência de maturidade.
A falta de estabilidade emocional dos pais dificulta a educação dos seus filhos.
Obviamente, é necessário impor limites para as crianças, visto que isso fará parte da vida adulta. Mimar os filhos, sendo muito permissivo a eles, cedendo a todos as suas solicitações implica em não prepará-los para a vida adulta.
Na medida em que as crianças aprendem desde cedo a lidar com as frustrações, elas terão mais chances de se tornarem adultos emocionalmente preparados para lidar com as adversidades da vida. Geralmente, os problemas dos pais repercutem de forma negativa na criança. Pode-se dizer até que, em alguns casos, os filhos pequenos são espelhos das condições emocionais dos próprios pais, principalmente no que diz respeito ao surgimento de seguidos cacoetes.
Quando isso ocorre, pode estar acontecendo dos pais, em virtude do nervosismo ou falta de habilidade na educação, estarem reprimindo com muita veemência seus filhos, dificultando o processos de elaboração interior das frustrações.
Os princípios da metafísica rezam que cada um é responsável pela sua própria condição interna. A maneira como a pessoa elabora as ocorrências existenciais define o estado emocional.
Os eventos exteriores não são determinantes sobre a condição interior.
Assim sendo, não se deve atribuir exclusivamente aos pais as dificuldades que os filhos apresentam, no que diz respeito, por exemplo, à elaboração das frustrações. Mas sim, a maneira como a própria criança lida interiormente com aquilo que ela depara no ambiente ou como os adultos a tratam; mesmo enquanto crianças!
Existem crianças mais impulsivas e outras mais sossegadas.
Enquanto algumas são mais fáceis de lidar, por apresentarem características de personalidade maleáveis, outras precisam de intensas repressões para aprenderem a lidar com os limites.
Na verdade, não se pode julgar os pais, com base nos filhos, pois cada ser é constituído de valores internos.
Assim sendo, cada um é responsável por aquilo que se torna.
Fonte: retirado do livro metafisica da Saúde