Do plantio à colheita, o cultivo do cacaueiro demanda tempo, conhecimento e um manejo diferenciado. Para manter a planta saudável e, principalmente, com alto nível de produtividade, os pesquisadores da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) desenvolvem diferentes técnicas de plantio.
A implantação do cacaueiro em sistemas agroflorestais, conhecidos como SAFS, é uma das tecnologias mais bem-sucedidas para o plantio de cacau em diferentes regiões, mesmo naquelas onde a árvore não ocorre naturalmente.
Neste modelo de plantio, o cacau é plantado junto com outras culturas de árvores, palmeiras ou frutas, como ocorre em seu bioma de origem, a floresta Amazônica.
Eucalipto, açaí, banana, são algumas das culturas que geralmente podem ser plantadas junto com o cacau, para gerar sombra, nutrientes, água, entre outros recursos. O sistema agroflorestal também protege o cacaueiro de ataque de insetos e pragas, o que favorece a redução de uso de insumos.
“Você pode montar um sistema agroflorestal com cacau, seringueira, planta medicinal. Coco com cacau é excelente, ajuda na ambiência e na exploração de profundidades diferentes das raízes. A gente também planta muita banana com cacau, porque o cacaueiro é uma planta que extrai muito potássio e a bananeira tem folhas que vão imbricando, jogam água e liberam potássio sobre o cacau. Ou seja, é uma irrigação e adubação natural”, explica George Sodré, especialista em solos da Ceplac Bahia.
Segundo a Ceplac, os SAFS são modelos de exploração dos solos que mais se aproximam ecologicamente da floresta natural e, por isso, se tornam importante alternativa de uso sustentado do ecossistema tropical úmido.
Ao diminuir a pressão sobre as áreas de reserva, o sistema também permite a preservação da chamada cabruca. “Temos que avançar com muita tecnologia para tentar salvar a cabruca, que é reserva de Mata Atlântica, manancial de nascentes de água e tem a própria questão cultural”, alerta Sodré.
Entre os principais benefícios plantio de cacau no sistema agroflorestal está o sequestro e retenção de carbono da atmosfera, proteção e manutenção da biodiversidade, proteção do solo contra erosão, reciclagem de nutrientes, incorporação de matéria orgânica no solo, retenção de umidade e eliminação das queimadas.
Os agrônomos destacam ainda que cultivar o cacaueiro em meio à floresta também favorece a recomposição de matas ciliares, a proteção de cursos d’água, estabilização climática e recuperação de áreas degradadas.
“A agricultura em sistemas agroflorestais presta uma diversidade de serviços ambientais e proporciona aos agricultores um modelo de sistema produtivo competitivo, que garante produtividade e conservação ambiental”, explicou o agrônomo Raul Guimarães, servidor da Ceplac no Pará, onde o cacau é plantado em meio à floresta amazônica.
O especialista acrescenta que a atividade da cacauicultura promove desenvolvimento sustentável, rural e integrado ao favorecer a geração de empregos diretos e indiretos, renda e qualidade de vida para os agricultores, o que contribui para a contenção do êxodo rural.
“Do ponto de vista técnico agronômico, socioeconômico, ecológico e estratégico, os sistemas agroflorestais são os sistemas produtivos mais viáveis e mais competitivos. Podemos dizer que a cacauicultura e os sistemas agroflorestais reúnem todas as condições de sustentabilidade, porque conseguem proporcionar às famílias possibilidades de fixação no meio rural”, disse.
Adubo orgânico
O Centro de Pesquisa do Cacau da Ceplac também busca aproveitar os excedentes do cultivo do cacau para produzir composto orgânico de adubação das plantas. Da casca do cacau antes rejeitada, os pesquisadores da Ceplac desenvolveram um adubo que se transformou em biofertilizante especial.
A ideia surgiu para aproveitar o grande volume de casca que é jogada fora depois de extraída a polpa com as sementes, matérias primas para o futuro chocolate. Segundo os especialistas, em mil quilos de fruto, são aproveitados apenas 10 quilos de extrato e para cada mil quilos de amêndoas de cacau, são gerados sete mil quilos de casca.
“Jogada no campo, na casca começa a crescer os fungos que atacam o cacau. Então, a casca acaba sendo prejudicial quando vira fonte de inócuo e quando ela decompõe e libera nutriente excessivamente”, explicou o professor Sodré.
Para evitar o desperdício e a formação de fonte de doenças, o pesquisador descobriu que, se o volume excedente de casca fosse concentrado de forma correta, seria possível extrair um líquido rico em potássio e com potencial para ser industrializado como fertilizante orgânico.
A descoberta rendeu ao pesquisador um prêmio de ideias inovadoras concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb). “Agora, estamos esperando que alguma empresa entre no negócio, mas já usamos o produto”, afirmou Sodré.
Na casa de vegetação da unidade da Ceplac em Ilhéus, os pesquisadores também desenvolvem mudas que darão origem a cacaueiros mais viáveis para manejo e produção.
Os pesquisadores da Ceplac mantêm um trabalho de mapeamento de todos os tipos de solo da região cacaueira e identificaram que é possível, por meio de técnicas específicas de manejo, produzir cacau em diferentes áreas e biomas.
As amostras coletadas de todos os solos são analisadas em laboratórios específicos e alguns modelos estão expostos em uma sala específica da Ceplac.
“Temos solos espetaculares e com tecnologia conseguimos produtividade na Chapada Diamantina, por exemplo", diz Sodré. O pesquisador cita que também há experiências de plantio de cacau bem-sucedidas no interior do Ceará e de Pernambuco, em áreas do Vale do Rio São Francisco. “O mundo está demandando cacau demais e o cacau precisa vir de algum lugar. Para atender ao mercado mundial de cacau, você pode plantar em todos os lugares”, comentou Sodré.
Fonte: Ministério da Agricultura